No último debate realizado no Fórum e Feira de Hidrogênio, na Bahia, especialistas discutiram os desafios e as oportunidades no uso do hidrogênio de baixo carbono para a indústria global. A mesa redonda trouxe perspectivas valiosas de profissionais que têm liderado projetos na Europa, América do Norte e Brasil.Desafios na infraestrutura e regulaçãoLuiz Piauhylino Filho, representante da H2 VERDE -e de um projeto em Portugal, destacou a burocracia como barreira central para a implementação de iniciativas no setor. A obtenção de licenças e a falta de infraestrutura, como linhas de transmissão e gasodutos, foram citadas como entraves tanto na Europa quanto no Brasil. Ele alertou que, sem uma abordagem mais ágil, a produção de hidrogênio pode ser comprometida.Além disso, Luís chamou atenção para o desperdício de recursos naturais no Brasil. “Temos um potencial imenso de biomassa, mas não aproveitamos adequadamente o que temos. É preciso expandir a produção de hidrogênio para rotas alternativas, como a biomassa, e não depender exclusivamente da eletrólise”, afirmou.Modelos estratégicos de transporte e produçãoA necessidade de repensar o transporte do hidrogênio, por outro lado, também acabou amplamente debatida. A proposta de construir gasodutos foi apontada como uma solução mais eficiente do que a instalação de linhas de transmissão em regiões remotas. Luís sugeriu que a Bahia, por exemplo, aproveite sua rica matriz energética no interior – com energia solar, eólica e hidrelétrica – para produzir hidrogênio e transportá-lo via gasoduto para áreas metropolitanas.Adriano Valle, outro participante do painel e especialista da WHITE MARTINS, reforçou a importância de pensar “fora da caixa” e ser realista quanto aos custos. Ele compartilhou a experiência de implementar o primeiro gasoduto dedicado ao transporte de hidrogênio no Brasil, um passo pioneiro que demonstra o potencial do país em liderar esse mercado.Cenário do hidrogênio no BrasilO hidrogênio verde no Brasil ainda enfrenta desafios relacionados ao alto custo do gás natural, principal matéria-prima para sua produção no modelo atual. Entretanto, Adriano destacou que avanços em tecnologia e otimização já permitem a competitividade do hidrogênio verde em projetos menores, mesmo sem subsídios governamentais.Na mobilidade, Bertrand Ciavaldini, especialista em transporte da HYFIT, apontou que o Brasil tem vantagens em termos de autonomia de veículos movidos a hidrogênio. No entanto, ele alertou sobre a dificuldade em tornar o hidrogênio competitivo devido aos custos de transporte.Os especialistas encerraram o debate com mensagens otimistas, mas realistas. Luís lembrou que a construção de uma economia baseada em hidrogênio é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. “Os projetos de grande escala levam de 5 a 8 anos para amadurecer. Precisamos ser resilientes, criativos e pensar no longo prazo”, enfatizou.Adriano concluiu reforçando a necessidade de persistência e visão de futuro. “Se não houvesse problemas, não estaríamos aqui. Precisamos ser homens e mulheres de aço, injetados com hidrogênio.”Próximos passos para o BrasilO painel evidenciou que o Brasil tem potencial para se tornar um protagonista na produção de hidrogênio de baixo carbono. Contudo, isso exigirá planejamento estratégico, investimento em infraestrutura e uma abordagem integrada que considere não apenas o setor elétrico, mas também o energético como um todo.Com iniciativas pioneiras surgindo e o aprendizado com experiências globais, o Brasil pode superar os desafios e se consolidar como líder no mercado global de hidrogênio.O debate completo pode ser acessado pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=yyoo0fPP9XU