Diálogo aberto e construtivo com as distribuidoras de energia é fundamental para consolidação da Geração Distribuída, diz especialista

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Tratativa correta com a distribuidora desde o início do projeto pode evitar surpresas financeiras, assim como facilitar o processo

A instalação de sistemas solares, sejam eles residenciais ou grandes usinas, envolve diversos agentes e processos que muitas vezes são negligenciados. Um elemento crucial que frequentemente é esquecido por instaladores e projetistas é a distribuidora de energia elétrica, responsável pela conexão desses sistemas à rede.

Flávio Wacholski, engenheiro eletricista com vasta experiência no setor, destaca a importância de considerar a distribuidora desde o início do projeto. "Os conflitos entre distribuidoras e clientes são comuns, principalmente porque o cliente ou investidor acaba assumindo a responsabilidade pela conexão do sistema solar. Isso envolve um arcabouço de normas, leis e procedimentos a serem seguidos", afirma Wacholski.

Depois de deixar a Celesc, Wacholski assumiu uma carreira dentro do Conselho Regional de Engenharia de Santa Catarina (CREA-SC), onde foi diretor por dois anos, além de participar de outros fóruns como a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD). Ele comenta que sempre buscou atuar no nicho que chama de "liberdade da energia". "O modelo de autoprodutor, por exemplo, que já trabalhamos no passado, está ganhando força novamente. A geração distribuída permite que investidores privados entrem no segmento de geração de energia, o que antes era algo inimaginável no Brasil."

A experiência de Wacholski na instalação de sistemas solares no Sul do país revelou muitos desafios e oportunidades. "Minha empresa atua na instalação de sistemas solares, e desenvolvemos uma expertise em assessoria para conexão de usinas de médio e grande porte. Essa atuação nos fez entender ainda mais os conflitos que surgem com as distribuidoras."

Um dos principais pontos de atrito é a regulamentação imposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que muitas vezes se contradiz com o Código de Defesa do Consumidor. A Lei 14.300, conhecida como o marco legal da geração distribuída, trouxe ajustes importantes, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

"Os problemas técnicos como fluxo inverso e sobretensão em alimentadores são questões que temos enfrentado. Já vimos casos em que distribuidoras negaram a ligação de sistemas solares justificando fluxo inverso, um termo que discutimos amplamente com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para entender seu real impacto", diz Wacholski.

Ele destaca a importância de uma avaliação técnica detalhada e a necessidade de um bom relacionamento com as distribuidoras. "Em muitos casos, a distribuidora é vista como a vilã, mas é crucial entender que ela faz parte do contexto nacional do sistema elétrico. O poste na rua, o cabo, o transformador, a subestação, são estruturas essenciais para a conexão da geração distribuída."

Wacholski cita um exemplo em Florianópolis, onde um sistema residencial de 5 kW teve a conexão negada inicialmente porque a distribuidora pediu a troca do transformador da rede. "Após avaliação, verificamos que a distribuidora tinha razão, e o custo adicional foi de R$ 12.000. Isso mostra que, apesar das críticas, as distribuidoras também têm seus argumentos válidos."

A complexidade do sistema elétrico brasileiro envolve várias entidades, como EPE, ONS e o Ministério de Minas e Energia, que são favoráveis à geração distribuída. "No entanto, as distribuidoras querem manter seu negócio, o que é compreensível. Existem discussões no Congresso sobre a manutenção de 70% dos clientes para as distribuidoras, 20% para o mercado livre e 10% para a GD."

Wacholski finaliza ressaltando a importância de uma tratativa correta com a distribuidora para evitar surpresas financeiras. "Sempre busquem um orçamento estimado ou de conexão para não ter surpresas. Já vimos casos onde investidores tiveram custos adicionais significativos porque não seguiram o processo corretamente."

Para Wacholski, o relacionamento técnico-administrativo com as distribuidoras é fundamental. "É importante tentar sempre sentar com a distribuidora para discutir a melhor solução técnica e administrativa, evitando ao máximo recorrer ao meio jurídico."

Assim, ele conclui que a chave para o sucesso na integração de sistemas solares está no equilíbrio entre seguir as regulamentações e manter um diálogo aberto e construtivo com as distribuidoras de energia.

A palestra completa do especialista pode ser acessada no canal oficial do Grupo FRG Mídias & Eventos no YouTube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=z-bnoshoHaM.

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