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A biomassa dedicada e os leilões de energia

O Brasil passa por uma mudança no setor de energia, na qual matrizes elétricas, antes coadjuvantes, estão se tornando cada vez mais complementares à produção hidrelétrica no atual mix energético do país. Apesar de o consumo ter mostrado lenta queda no atual momento de crise, a previsão é que a demanda continue a crescer, com aumento em mais de 50% até 2030.

Pelo segundo ano consecutivo a geração de energia elétrica pela matriz hidráulica apresentou redução. Os números divulgados pelo Ministério de Minas e Energia, no BEN – Balanço Energético Nacional de 2014, mostrou que no ano passado, o decréscimo foi de 5,4%. A demanda crescente foi atendida graças a expansão da geração térmica, especialmente nas usinas movidas a carvão mineral (+75,7%), gás natural (+47,6%) e biomassa (+19,2%), cujas participações na matriz elétrica, na comparação de 2013 contra 2012, cresceram de 1,6% para 2,6%; de 7,9% para 11,3%; e de 4,2% para 4,9%, respectivamente.

Essas transformações vêm à tona gradualmente com as mudanças apresentadas nos últimos leilões de energia que vêm tentando dar mais destaque para fontes renováveis. A Aneel – Agência Nacional de Energia elétrica anunciou que o leilão A-5, previsto para acontecer em 28 de novembro (depois de adiado por duas vezes), terá um preço referência para a energia produzida em termelétricas movidas à biomassa. O valor estabelecido para o certame foi de R$ 197/MWh, alta de 37% em relação a 2013.
A energia elétrica produzida através da biomassa, além de ser uma fonte renovável, tem a vantagem de estar próxima dos grandes centros de consumo, reduzindo os custos de distribuição. A potência instalada do setor sucroenergético está estimada em cerca de 5 mil MW, mas há potencial para que ela dobre e chegue a 10,2 mil MW em 2020.

Diferente dos grandes projetos das usinas hidrelétricas, uma usina geradora que utiliza biomassa como combustível, leva cerca de dois anos para ficar pronta. De acordo com o Datagro, atualmente, apenas 170 das 389 usinas termelétricas geram excedente de energia para a rede. No ano passado, essas unidades disponibilizaram 1760 MW médios.
Tradicionalmente, o bagaço de cana é a principal fonte de biomassa no Brasil. Nos últimos anos, algumas usinas começaram a transformá-lo em um fluxo adicional de receita, seja por meio da geração de energia vendida para a rede (spot ou leilão) ou pela geração de excedente de energia para processos industriais em locais próximos.

Contudo, a escassez de bagaço causada pela diminuição da moagem de cana na safra 2014/2015 no Centro-Sul do país, principal região produtora, está fazendo necessária a complementação de matéria-prima nas usinas. Algumas indústrias do setor já começaram a utilizar uma nova cultura como fonte complementar: o sorgo biomassa Palo Alto, matéria-prima dedicada, criada com o propósito de fornecer alto rendimento de biomassa lignocelulósica por hectare.

O Palo Alto é uma fonte única em sua capacidade de fornecer desde calor, até eletricidade de base intermitente (e também despachável) em usinas termoelétricas e o Brasil possui vantagens globais em termos de clima, geografia, infraestrutura e know-how para sua produção.

O hibrido Palo Aalto, da empresa Nexsteppe é uma cultura de ciclo explosivo, que atinge o ponto de colheita e queima eficiente em caldeiras em até 120 dias. Exigindo menos água e oferecendo mais resistência ao calor do que outras matérias-primas residuais e fontes de biomassa, como o bagaço de cana de açúcar, o sorgo biomassa pode ser plantado na entressafra da cana, tornando-se uma fonte de matéria-prima renovável para produção de energia a preço competitivo durante todo o ano.
O sorgo biomassa é uma cultura complementar à cana-de-açúcar e não irá substituí-la. O setor de cana renova entre 12% e 16% de seu canavial todos os anos. Esse número pode ser maior ou menor devido ao momento econômico do setor. Todos os anos, áreas de baixa produtividade de cana, são liberadas para reforma. Parte desse espaço fica ocioso entre novembro e março, representando ótima oportunidade para o cultivo de uma cultura de ciclo rápido que possui aderência ao negócio da usina. Em média, 1 tonelada de sorgo produz 0,33 MW. Em caldeiras de alto desempenho este número pode chegar a 1 MW a cada duas toneladas da matéria-prima.

Com alternativas complementares como o Palo Alto, diversas indústrias poderão ampliar seus projetos de cogeração e ou até mesmo iniciar sua participação nesse mercado, gerando novas fontes de renda para um setor que passa por um momento desafiador e contribuindo para a melhoria da matriz energética brasileira. Uma maior participação desse setor na malha energética do país trará contribuições estratégicas e significativas no que diz respeito aos custos e investimentos em linhas de transmissão, no incentivo à produção agrícola e na garantia de fornecimento de energia às indústrias e ao consumidor final.

Tatiana Gonsalves, engenheira agrônoma, Diretora Comercial da Nexsteppe Brasil.


Fonte: Jornal Brasileiro de Biomassa e Energia

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