Cana-de-açucar

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Mecanização é realidade na cana

Dos 1,4 mil moradores de Astorga (a 50 quilômetros de Maringá), que até dois anos atrás trabalhavam no corte de cana para usinas da região, apenas 470 estão em atividade na safra atual e a previsão é de que menos da metade desses operários tenham o emprego na próxima colheita. Efeito semelhante é verificado em todo o noroeste paranaense, sobretudo nas regiões de solos arenosos, que formam o Arenito Caiuá, onde estão os principais canaviais do Estado e 24 das 28 usinas de álcool e açúcar do Paraná.

Os números foram apresentados pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Astorga e representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaep), Claudinei de Carli, que já foi cortador de cana e há mais de 20 anos luta pela melhoria das condições de trabalho de cortadores, plantadores, ´bituqueiros´ - que recolhem os restos de cana que ficam espalhados na lavoura, após a colheita -, queimadores, motoristas e outros profissionais.

Segundo ele, a mudança se deve à mecanização da cultura da cana. As usinas e destilarias compram máquinas que substituem dezenas de trabalhadores braçais nos serviços de plantio e colheita. "Os poucos trabalhadores que continuam no ramo fazem somente o corte naquelas áreas de fundo de vale ou sobre os terraços, pois as máquinas têm dificuldades para trabalhar em terrenos que não sejam planos", destaca.

A mecanização ocorre por força de lei e tem prazo para que atinja 100% dos canaviais. Pela previsão legal, a abolição do uso de fogo na palhada da cana-de-açúcar tem que atingir 100% dos canaviais paranaenses até o último dia de 2025, mas 20% das áreas com cana têm que estar mecanizadas até 31 de dezembro do ano que vem.

"Já fomos muito além do que preconiza o decreto do governo do Paraná", disse o presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), industrial Miguel Rubens Tranin. De acordo com ele, a meta era acabar com as queimadas e as máquinas substituir os trabalhadores em 20% daqui a um ano, mas "nesta safra já passamos de 30% e a mecanização está em um ritmo que mostra que não teremos dificuldade em termos as máquinas fazendo o serviço em 100% dos canaviais bem antes de 2025".

Tranin ressalta haver poucas questões para que a mecanização avance ainda mais rápido. "Ainda temos dificuldade nas áreas onde o declive do solo esteja acima de 15 graus, mas técnicos trabalham para criar máquinas adaptadas para o serviço também em solos inclinados", acrescenta. Ele acredita que o problema esteja solucionado nos próximos anos.

"O problema não é só desempregar, mas a perda dos direitos conquistados nos últimos 30 anos, como o registro em carteira, carga de 44 horas semanais e outros direitos que tiraram o trabalhador da cana de um tipo de escravidão que imperou até algumas décadas atrás, quando se trabalhava até 12 horas, por dia, e em condições subumanas", afirma Tranin.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Paranacity, Ilton Irineu da Silva, diz que o desemprego provocado pela mecanização será sentido de maneiras diferentes de acordo com a região. "Em alguns municípios há outras opções de trabalho, mas em alguns o trabalhador terá não somente que mudar de profissão mas procurar outras cidades", prevê.

Segundo o sindicalista, o município de Santa Inês, por exemplo, tem a população reduzida ano a ano, porque a maioria da população vive do trabalho na cana e ao perder o emprego para uma máquina fica sem ter no que trabalhar. "Em Paranacity já é diferente, porque aqui a usina sempre teve dificuldade para encontrar trabalhadores", declara.

Ele diz que a carência de mão de obra para o corte de cana no município é tão grande que a unidade local da Usina Santa Terezinha contrata trabalhadores em outros Estados. Na safra passada, por exemplo, vieram 350 cortadores de cana do interior da Bahia, mas, segundo ele, também a vinda de braçais de fora diminui desde que a empresa introduziu máquinas nas principais áreas do processo.

De Carli comenta que na região de Astorga as máquinas provocam desemprego na cana, mas o problema social é amenizado com a oferta de vagas em outras áreas, como os abatedouros de frango, confecção e construção civil.


Decomposição afeta ambiente

O presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), Miguel Rubens Tranin, assinou com o governo do Paraná a resolução que prevê a eliminação gradativa da despalha da cana-de-açúcar, por meio da queima controlada, mas garante que deixar de queimar os canaviais está longe de contribuir para que a agressão à camada de ozônio seja reduzida.

Acontece que a palhada que fica no solo, após a colheita com máquinas, apodrece, vagarosamente, emitindo na atmosfera milhares de toneladas de gás metano, que é, segundo cientistas, 10 vezes mais nocivo à camada de ozônio do que o CO2 (gás carbônico) das queimadas.

"A mecanização não terá retrocesso por isto, porque a Alcopar, juntamente com a Universidade Federal do Paraná, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outros institutos desenvolvem estudos para que este material orgânico que fica no solo seja, de alguma maneira, aproveitado antes que comecem as emissões de metano", explica.

Uma das alternativas em vista, segundo Tranin, é a utilização da biomassa para a geração de energia elétrica, "mas isto depende ainda de se criar mecanismo para baratear o processo, porque, hoje, o custo para recolher, transportar e queimar este material orgânico é maior do que o valor que poderia gerar em energia".

Luiz de Carvalho
Fonte: Portal O Diário

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